Não se trata de dizer que tal ideia feita seja falsa, mas de dizer que o número de gols, por si só, não é capaz de garantir um grande jogo. De quebra, pretendo mostrar que a ideia feita, apesar de assim aparentar, não é óbvia.
O que realmente me incomoda é a mania de se classificar um jogo como “jogaço” a partir apenas de seu placar elevado (3 a 3, 4 a 3, 4 a 4, 5 a 4 etc.). Tal ideia feita se sobrepõe ao fato de um jogo ter sido, realmente, um grande jogo. Assim como um 0 a 0 pode ter sido bom, um 3 a 3 pode ter sido, facilmente, fraco, sobretudo, no aspecto técnico e tático.
Mais uma vez: não quero afirmar que um jogo de placar elevado seja ruim, mas apenas que não é, necessariamente, bom. Se fosse verdade que um jogo de placar elevado é sempre de qualidade, estaríamos pressupondo que o sistema defensivo de um time não tem a mínima importância; que somente o que ele pode fazer é atrapalhar o grande jogo. Estaríamos pensando assim: “se o jogo não foi bom, foi porque a defesa soube atrapalhá-lo”. Seguindo ainda o mesmo raciocínio, poderíamos dizer que a falha de um goleiro é altamente positiva para uma partida de futebol, visto que tal falha contribui diretamente para o aumento do placar.
Do mesmo modo que a seguinte afirmação é problemática: “quanto mais gols melhor o jogo”, esta outra também o é: “ambos os times foram incompetentes e permaneceram no 0 a 0”. Até pode ser que este ou aquele 0 a 0 se deva à incompetência dos times, porém, isso não pode ser concluído apenas a partir da observação do placar final. A ideia feita é problemática justamente por isto: ela substitui a análise dos casos. O placar surge como um motivador imediato de um axioma reativo:
– O jogo terminou 5 a 4! [Ação]
– Mesmo? Que “jogão”! [Reação (submetida à ação)]
Há quem diga que tal ideia feita se justifica pelo fato de que o futebol não teria a menor graça e o menor sentido se não houvesse o gol. Concordo! Mas em relativização a isso, afirmo que um dos grandes “segredos” do futebol tange o fato de o gol ser um acontecimento raro. Ou seja, é verdade que o sentido do futebol passa pelo gol, porém, não é verdade que o sucesso desse esporte passa pela quantidade de gols. Aqueles que frequentam estádios de futebol, e experimentam a emoção de uma goleada, sabem que, na medida em que acontece mais um gol, a euforia da torcida diminui; e, no íntimo, sabem que a cada falha do adversário a valorização da vitória é, igualmente, cada vez menor. Entretanto, ainda assim é possível argumentar que isso não acontece nos casos em que o placar, apesar de alto, segue equilibrado (numa situação de 4 a 3, por exemplo). Em matéria de euforia da torcida, isso é inquestionável; mas não em matéria de avaliação do jogo, mesmo porque a euforia diz respeito apenas a uma torcida em específico, justamente aquela que a sua preocupação não é avaliativa e apreciativa, mas exclusivamente comemorativa. A avaliação do jogo, enfim, precisa ser imanente, o que quer dizer que é a própria experiência de vivenciar o jogo que deveria fundamentar o grau de qualidade deste.
O que realmente me incomoda é a mania de se classificar um jogo como “jogaço” a partir apenas de seu placar elevado (3 a 3, 4 a 3, 4 a 4, 5 a 4 etc.). Tal ideia feita se sobrepõe ao fato de um jogo ter sido, realmente, um grande jogo. Assim como um 0 a 0 pode ter sido bom, um 3 a 3 pode ter sido, facilmente, fraco, sobretudo, no aspecto técnico e tático.
Mais uma vez: não quero afirmar que um jogo de placar elevado seja ruim, mas apenas que não é, necessariamente, bom. Se fosse verdade que um jogo de placar elevado é sempre de qualidade, estaríamos pressupondo que o sistema defensivo de um time não tem a mínima importância; que somente o que ele pode fazer é atrapalhar o grande jogo. Estaríamos pensando assim: “se o jogo não foi bom, foi porque a defesa soube atrapalhá-lo”. Seguindo ainda o mesmo raciocínio, poderíamos dizer que a falha de um goleiro é altamente positiva para uma partida de futebol, visto que tal falha contribui diretamente para o aumento do placar.
Do mesmo modo que a seguinte afirmação é problemática: “quanto mais gols melhor o jogo”, esta outra também o é: “ambos os times foram incompetentes e permaneceram no 0 a 0”. Até pode ser que este ou aquele 0 a 0 se deva à incompetência dos times, porém, isso não pode ser concluído apenas a partir da observação do placar final. A ideia feita é problemática justamente por isto: ela substitui a análise dos casos. O placar surge como um motivador imediato de um axioma reativo:
– O jogo terminou 5 a 4! [Ação]
– Mesmo? Que “jogão”! [Reação (submetida à ação)]
Há quem diga que tal ideia feita se justifica pelo fato de que o futebol não teria a menor graça e o menor sentido se não houvesse o gol. Concordo! Mas em relativização a isso, afirmo que um dos grandes “segredos” do futebol tange o fato de o gol ser um acontecimento raro. Ou seja, é verdade que o sentido do futebol passa pelo gol, porém, não é verdade que o sucesso desse esporte passa pela quantidade de gols. Aqueles que frequentam estádios de futebol, e experimentam a emoção de uma goleada, sabem que, na medida em que acontece mais um gol, a euforia da torcida diminui; e, no íntimo, sabem que a cada falha do adversário a valorização da vitória é, igualmente, cada vez menor. Entretanto, ainda assim é possível argumentar que isso não acontece nos casos em que o placar, apesar de alto, segue equilibrado (numa situação de 4 a 3, por exemplo). Em matéria de euforia da torcida, isso é inquestionável; mas não em matéria de avaliação do jogo, mesmo porque a euforia diz respeito apenas a uma torcida em específico, justamente aquela que a sua preocupação não é avaliativa e apreciativa, mas exclusivamente comemorativa. A avaliação do jogo, enfim, precisa ser imanente, o que quer dizer que é a própria experiência de vivenciar o jogo que deveria fundamentar o grau de qualidade deste.
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