Prefácio

A criação deste blog deve-se, primeiro, ao Dictionnaire des idées reçues, de Gustave Flaubert, escrito como parte do incompleto Bouvard et Pécuchet, e, segundo, ao Dicionário das ideias feitas em educação, organizado por Sandra Mara Corazza (professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Julio Groppa Aquino (professor da Universidade de São Paulo), a partir da ideia lançada por Flaubert. Diferentemente dessas duas inspirações, este blog não tem a estrutura alfabética de um dicionário, e nem de perto a mesma sutileza; mas é guiado pela atualidade mundana do futebol. Ainda que as duas inspirações também partam da mundanidade, atingem verdades superiores. Já este blog busca, tão somente, apropriar-se das ideias já prontas para dar-lhes um novo sentido ou uma nova explicação.

As ideias feitas do futebol (entendidas como lugares-comuns, clichês e/ou chavões usados, sobretudo, pela crônica esportiva) constituem a matéria deste blog; matéria essa constituída por ideias que, apesar de terem sido inventadas, parece que se esqueceram disso, e, justamente por essa razão, apresentam-se como verdades fáceis, incapazes de provocarem o pensamento.

As ideias feitas não tangem a consistência deste blog; mas a matéria. Isso significa que elas se constituem nos pontos de partidas de cada seção (por isso, cada seção tem como título a própria ideia feita). E isso também significa que não se trata de negar as ideias vindas do senso comum (sobretudo, da crônica esportiva), mas de lidar com elas; fazê-las variar, já que, por hábito, os envolvidos preferem conservá-las.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Pelé é o melhor jogador da história do futebol mundial!

Não tenho a menor intenção de dizer que Pelé não é o maior jogador da história do futebol; em verdade, sequer entro na questão "quem foi o melhor!". Quero apenas dizer que tal ideia se torna problemática na medida em que, uma vez expressada, não exige que seja defendida, argumentada; pelo contrário, acaba se impondo como verdade fácil, livre de qualquer questionamento e isenta de um empreendimento criativo. Trata-se, precisamente, do efeito de uma ideia pronta! O enunciado substitui o desafio que implica a observação individual de cada desempenho e de cada contexto histórico; impõe-se independentemente das experiências; dispensa a experiência.

Nada impede que alguém afirme que o melhor jogador da história do futebol mundial seja Rivaldo (ou Ronaldo, Romário, Zidane etc.); entretanto, o autor dessa afirmação é colocado, de imediato, diante do desafio de trazer, colado à sua afirmação, uma argumentação, uma defesa, a qual, justamente por ainda não estar pronta, exige que aquele lance mão de inventividade e de um empreendimento de dissimulação da ideia pronta. E esta, aliás, é a graça: nenhuma ideia pronta resiste ao poder de um efeito dissimulador.

Nesse caso, além de inventividade, o autor também não pode deixar de lançar mão do inevitável risco do seu esforço não funcionar. Eis a segunda graça: não é qualquer “oba-oba” que pode vir a convencer!

Um comentário:

  1. Indivíduos que nasceram depois da década de 70 já nasceram com pelé como "O Rei". O título já era dele, por isso não se discute o contrário.

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