Prólogo: o que diferencia um time de outro é menos o talento e mais o estilo de jogo. Desde que esse "estilo de jogo" não seja confundido com o fato de um esquema de jogo valorizar mais o sistema ofensivo do que o defensivo. Até porque (considerando que estamos a tratar de futebol profissional, dotado de compromissos com os resultados) um time se torna ofensivo a partir de uma série de fatores, dentre os quais os principais pertencem à ordem do inusitado, de modo que nenhum time pode garantir, de antemão, a prática de um futebol ofensivo, mesmo que isso tenha sido planejado. Nesse sentido, o esquema de jogo não pode ser concebido como uma característica intrínseca; sobretudo, porque pertence mais à ordem da racionalidade e da consciência voluntária. Já o estilo de jogo, apesar de também não poder ser dado como certo e invariável, pertence mais à ordem da espontaneidade do corpo e da linguagem gestual e, por isso, pode ser concebido como uma característica ligada a uma determinada "escola de futebol". Para melhor diferenciar as duas noções: o esquema vem sempre depois (depois da confiança, do treino, da dedicação etc.); o estilo vem sempre antes (antes do planejamento tático, da boa ou da má vontade etc.).
A principal característica que sempre contribuiu para que o estilo de jogo da seleção brasileira se diferenciasse do estilo de jogo europeu (entende-se: europeu ocidental), tange a cadência. Tal característica se expressa, sobretudo, nos jogadores de meio de campo. Os ditos craques brasileiros tendem a fazer a bola circular; em detrimento à preferência pelo passe em profundidade e em detrimento ao carregar a bola igualmente em profundidade. Isso não significa que esses jogadores não executam passes e não carregam bolas em direção à linha de fundo, mas significa que esses tipos de lances não são os preferenciais, no sentido de que eles somente acontecem nos interstícios do jogo, nas brechas das jogadas. É, justamente, o caráter inusitado da ação dessa característica que consagra o estilo de jogo brasileiro.
Entretanto, esse paradigma começou a mudar a partir da figura de um jogador chamado Kaká. Esse jogador (e isso aconteceu sem surpresas) rendeu muito mais na Europa do que no próprio Brasil (não devemos esquecer que a torcida do São Paulo, seu time de origem, não simpatizava com esse jogador; sobretudo, no final de sua trajetória). Se isso aconteceu sem surpresas, foi justamente porque o estilo de jogo desse jogador, dito craque, é europeu e não brasileiro (aqui, sem dúvida, corro o risco da generalização). Não foi à toa que obteve sucesso imediato no referido continente. Diante disso, e das promissoras atuações com a camisa da seleção brasileira, a crônica esportiva começou a admirar (freneticamente) o estilo desse jogador, o qual, segundo diziam, era "objetivo".
(É preciso notar que o oposto foi o que aconteceu com jogadores como Ricardinho (Corinthians, Santos, São Paulo, Atlético-MG) e Alex (Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro), os quais obtiveram grande sucesso em clubes brasileiros e não convenceram na Europa Ocidental. Ora, é precisamente porque os seus estilos são tipicamente brasileiros, caracterizados pela cadência e não pela velocidade das ações.)
A grande questão é que, ao mesmo tempo em que a figura Kaká seduzia as opiniões brasileiras, o futebol europeu, sobretudo através do time do Barcelona e das seleções espanhola e alemã, começava a percorrer o caminho inverso: o meio de campo menos como lugar de passagem da bola e mais como lugar de manutenção dela.
A principal característica que sempre contribuiu para que o estilo de jogo da seleção brasileira se diferenciasse do estilo de jogo europeu (entende-se: europeu ocidental), tange a cadência. Tal característica se expressa, sobretudo, nos jogadores de meio de campo. Os ditos craques brasileiros tendem a fazer a bola circular; em detrimento à preferência pelo passe em profundidade e em detrimento ao carregar a bola igualmente em profundidade. Isso não significa que esses jogadores não executam passes e não carregam bolas em direção à linha de fundo, mas significa que esses tipos de lances não são os preferenciais, no sentido de que eles somente acontecem nos interstícios do jogo, nas brechas das jogadas. É, justamente, o caráter inusitado da ação dessa característica que consagra o estilo de jogo brasileiro.
Entretanto, esse paradigma começou a mudar a partir da figura de um jogador chamado Kaká. Esse jogador (e isso aconteceu sem surpresas) rendeu muito mais na Europa do que no próprio Brasil (não devemos esquecer que a torcida do São Paulo, seu time de origem, não simpatizava com esse jogador; sobretudo, no final de sua trajetória). Se isso aconteceu sem surpresas, foi justamente porque o estilo de jogo desse jogador, dito craque, é europeu e não brasileiro (aqui, sem dúvida, corro o risco da generalização). Não foi à toa que obteve sucesso imediato no referido continente. Diante disso, e das promissoras atuações com a camisa da seleção brasileira, a crônica esportiva começou a admirar (freneticamente) o estilo desse jogador, o qual, segundo diziam, era "objetivo".
(É preciso notar que o oposto foi o que aconteceu com jogadores como Ricardinho (Corinthians, Santos, São Paulo, Atlético-MG) e Alex (Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro), os quais obtiveram grande sucesso em clubes brasileiros e não convenceram na Europa Ocidental. Ora, é precisamente porque os seus estilos são tipicamente brasileiros, caracterizados pela cadência e não pela velocidade das ações.)
A grande questão é que, ao mesmo tempo em que a figura Kaká seduzia as opiniões brasileiras, o futebol europeu, sobretudo através do time do Barcelona e das seleções espanhola e alemã, começava a percorrer o caminho inverso: o meio de campo menos como lugar de passagem da bola e mais como lugar de manutenção dela.
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