Ora, é justamente por isso que os suspeitos a infratores, costumeiramente, reclamam; é em função da existência de uma argumentação desse tipo que os jogadores acabam sempre reclamando.
Os gestos, no futebol assistido, estão submetidos à lógica representacional (de modo muito parecido com a descrição barthesiana do catch francês). Não basta sentir dor, é preciso realizar os gestos que, reconhecidamente, expressam a dor; não basta receber uma falta do adversário, é preciso exagerar no movimento de queda para que o público espectador conceba, simbolicamente, o sentido de falta; não basta não cometer uma falta, é preciso, ainda, reagir de maneira reclamatória após o gesto do árbitro.
O curioso é que quando lidamos com poucas pessoas, a nossa tendência, ao sentir dor, é procurar escondê-la, disfarçá-la ou explicá-la; e ao contrário é o que acontece quando lidamos com a multidão: na impossibilidade de explicarmos o sentido da dor (no caso do futebol, a causa da dor é a movimentação faltosa, por parte do adversário), substituímos a explicação pelo exagero representacional. Perante a multidão, não existe a dor sem o grito, sem a “cara feia” e sem o rolar no gramado; não existe a falta sem a queda; não existe a marcação da arbitragem sem a reclamação. Essa é a lógica representacional!
Ocorre que toda essa gestualidade capturada pela representação não é necessária! No futebol, apenas se tornou necessária. Se comentaristas esportivos contribuem para o funcionamento dessa lógica, é simplesmente por uma opção de “estilo comunicacional”. Eis o paradoxo: logo eles, os comentaristas (e aqui estou, fatalmente, generalizando), que tanto reclamam do “jogador cai-cai”, do “jogador que adora encenar”, do “jogador reclamão”, são os mesmos que, por vezes, proferem esta ideia feita: “a prova de que foi pênalti é a de que o jogador (infrator) sequer reclamou”. Novamente: ora, é por isso que os infratores precisam reclamar, estando, ou não, com a razão. O raciocínio do jogador, diante dessa ideia pronta, é o seguinte: “eu não fiz a falta, mas se eu não reclamar eu estarei dando a entender que a fiz!”.
Nós, espectadores (torcedores, crônica esportiva etc.), incentivamos que os gestos dos jogadores (e técnicos) sejam feitos não de acordo com o acontecido no jogo, mas de acordo com o que eles gostariam que nós entendêssemos. Isto é, os gestos dos jogadores são menos ligados às singularidades das situações e mais dedicados aos códigos da multidão. Diversos rolos corporais pelo gramado = “falta feia”; Reclamação desesperada = “o árbitro está nos prejudicando”; Não reclamação após uma marcação de pênalti = “prova de que não foi pênalti” etc.
Os gestos, no futebol assistido, estão submetidos à lógica representacional (de modo muito parecido com a descrição barthesiana do catch francês). Não basta sentir dor, é preciso realizar os gestos que, reconhecidamente, expressam a dor; não basta receber uma falta do adversário, é preciso exagerar no movimento de queda para que o público espectador conceba, simbolicamente, o sentido de falta; não basta não cometer uma falta, é preciso, ainda, reagir de maneira reclamatória após o gesto do árbitro.
O curioso é que quando lidamos com poucas pessoas, a nossa tendência, ao sentir dor, é procurar escondê-la, disfarçá-la ou explicá-la; e ao contrário é o que acontece quando lidamos com a multidão: na impossibilidade de explicarmos o sentido da dor (no caso do futebol, a causa da dor é a movimentação faltosa, por parte do adversário), substituímos a explicação pelo exagero representacional. Perante a multidão, não existe a dor sem o grito, sem a “cara feia” e sem o rolar no gramado; não existe a falta sem a queda; não existe a marcação da arbitragem sem a reclamação. Essa é a lógica representacional!
Ocorre que toda essa gestualidade capturada pela representação não é necessária! No futebol, apenas se tornou necessária. Se comentaristas esportivos contribuem para o funcionamento dessa lógica, é simplesmente por uma opção de “estilo comunicacional”. Eis o paradoxo: logo eles, os comentaristas (e aqui estou, fatalmente, generalizando), que tanto reclamam do “jogador cai-cai”, do “jogador que adora encenar”, do “jogador reclamão”, são os mesmos que, por vezes, proferem esta ideia feita: “a prova de que foi pênalti é a de que o jogador (infrator) sequer reclamou”. Novamente: ora, é por isso que os infratores precisam reclamar, estando, ou não, com a razão. O raciocínio do jogador, diante dessa ideia pronta, é o seguinte: “eu não fiz a falta, mas se eu não reclamar eu estarei dando a entender que a fiz!”.
Nós, espectadores (torcedores, crônica esportiva etc.), incentivamos que os gestos dos jogadores (e técnicos) sejam feitos não de acordo com o acontecido no jogo, mas de acordo com o que eles gostariam que nós entendêssemos. Isto é, os gestos dos jogadores são menos ligados às singularidades das situações e mais dedicados aos códigos da multidão. Diversos rolos corporais pelo gramado = “falta feia”; Reclamação desesperada = “o árbitro está nos prejudicando”; Não reclamação após uma marcação de pênalti = “prova de que não foi pênalti” etc.
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