Prefácio

A criação deste blog deve-se, primeiro, ao Dictionnaire des idées reçues, de Gustave Flaubert, escrito como parte do incompleto Bouvard et Pécuchet, e, segundo, ao Dicionário das ideias feitas em educação, organizado por Sandra Mara Corazza (professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Julio Groppa Aquino (professor da Universidade de São Paulo), a partir da ideia lançada por Flaubert. Diferentemente dessas duas inspirações, este blog não tem a estrutura alfabética de um dicionário, e nem de perto a mesma sutileza; mas é guiado pela atualidade mundana do futebol. Ainda que as duas inspirações também partam da mundanidade, atingem verdades superiores. Já este blog busca, tão somente, apropriar-se das ideias já prontas para dar-lhes um novo sentido ou uma nova explicação.

As ideias feitas do futebol (entendidas como lugares-comuns, clichês e/ou chavões usados, sobretudo, pela crônica esportiva) constituem a matéria deste blog; matéria essa constituída por ideias que, apesar de terem sido inventadas, parece que se esqueceram disso, e, justamente por essa razão, apresentam-se como verdades fáceis, incapazes de provocarem o pensamento.

As ideias feitas não tangem a consistência deste blog; mas a matéria. Isso significa que elas se constituem nos pontos de partidas de cada seção (por isso, cada seção tem como título a própria ideia feita). E isso também significa que não se trata de negar as ideias vindas do senso comum (sobretudo, da crônica esportiva), mas de lidar com elas; fazê-las variar, já que, por hábito, os envolvidos preferem conservá-las.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

É injusto chamar técnicos e jogadores de mercenários, pois as suas profissões são como quaisquer outras!

Se técnicos e jogadores de futebol (consagrados) são tão bem remunerados, é justamente porque as suas atividades diferenciam-se, num aspecto em especial, das atividades desempenhadas pelas demais profissões.

São tão bem recompensados financeiramente porque as suas funções envolvem a paixão da torcida.

Esses profissionais reivindicam a possibilidade de poderem avaliar uma transferência de um clube para outro do mesmo modo que um publicitário, por exemplo, avalia a sua transferência de uma agência para a outra, por conta de um melhor salário. Ora, a contradição está no fato de essa reivindicação não considerar que se as relações do futebol fossem frias e burocráticas, seria por não estar mais mexendo com a paixão da torcida; e se isso fosse verdade, o futebol deixaria de render tanto em termos financeiros. Por consequência, técnicos e jogadores deixariam de ser tão bem remunerados.

É evidente que técnicos e jogadores são bem valorizados financeiramente porque as suas atividades acabam por gerar lucros. Entretanto, isso somente acontece por conta do futebol envolver a paixão do torcedor, o que implica, necessariamente, em comprometimentos afetivos.

Infelizmente, no Brasil, a culpa é sempre do técnico!

Quem mais propaga essa ideia são os próprios técnicos consagrados.

Deveriam ficar quietos, pois se, financeiramente, ganham tanto quanto ganham, é justamente para serem os responsáveis; para serem os culpados, ainda que, racionalmente, saibam que os motivos de uma derrota ou de uma vitória sejam muito mais complexos.

A estratégia de se ter no técnico uma figura tão centralizadora, e significativa no dia-a-dia de um clube, funciona facilitando uma reorganização em casos de insucessos. Se, portanto, um clube remunera tão bem o seu técnico, é menos para "só vencer" do que para contar com um único responsável no caso de seguidos fracassos.

Isso significa que se a culpa não recaísse sempre sobre o técnico, e que se técnicos não “caíssem” tanto, esses, naturalmente, receberiam menos pela suas funções.