Prefácio

A criação deste blog deve-se, primeiro, ao Dictionnaire des idées reçues, de Gustave Flaubert, escrito como parte do incompleto Bouvard et Pécuchet, e, segundo, ao Dicionário das ideias feitas em educação, organizado por Sandra Mara Corazza (professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Julio Groppa Aquino (professor da Universidade de São Paulo), a partir da ideia lançada por Flaubert. Diferentemente dessas duas inspirações, este blog não tem a estrutura alfabética de um dicionário, e nem de perto a mesma sutileza; mas é guiado pela atualidade mundana do futebol. Ainda que as duas inspirações também partam da mundanidade, atingem verdades superiores. Já este blog busca, tão somente, apropriar-se das ideias já prontas para dar-lhes um novo sentido ou uma nova explicação.

As ideias feitas do futebol (entendidas como lugares-comuns, clichês e/ou chavões usados, sobretudo, pela crônica esportiva) constituem a matéria deste blog; matéria essa constituída por ideias que, apesar de terem sido inventadas, parece que se esqueceram disso, e, justamente por essa razão, apresentam-se como verdades fáceis, incapazes de provocarem o pensamento.

As ideias feitas não tangem a consistência deste blog; mas a matéria. Isso significa que elas se constituem nos pontos de partidas de cada seção (por isso, cada seção tem como título a própria ideia feita). E isso também significa que não se trata de negar as ideias vindas do senso comum (sobretudo, da crônica esportiva), mas de lidar com elas; fazê-las variar, já que, por hábito, os envolvidos preferem conservá-las.

domingo, 2 de outubro de 2011

Mário Fernandes não foi para a seleção porque preferiu ficar no Grêmio!

Argumentos que tornam essa ideia absurda:

Argumento racional: o jogo da seleção era na quarta-feira (no Brasil). O próximo jogo do Grêmio era no domingo. Isso significa que a ida do jogador à seleção não atrapalharia, em nada, a sua participação em jogos do Grêmio;

Argumento mercadológico: o fato de os clubes brasileiros necessitarem negociar jogadores com o mercado estrangeiro é amplamente conhecido. Nesse sentido, se Mário Fernandes tivesse, de fato, a intenção de contribuir com o Grêmio, deveria ter se apresentado à seleção. Tanto isso é verdade que o próprio Grêmio tentou remarcar a passagem do jogador;

Argumento factual: um funcionário do Grêmio afirmou que o verdadeiro motivo da não apresentação do jogador foi a participação desse numa festa noturna. Por que um funcionário do próprio clube inventaria uma história desse tipo?

Por motivos diversos, alguns torcedores acabam optando pela fantasia. Nada haver com a “fantasia” barthesiana (ligada à inventividade afirmativa), mas com uma fantasia que, em vez de inventar (como no caso barthesiano), prefere simplesmente acreditar (crer) numa mentira compartilhada. Em função desse caráter compartilhado, a mentira recebe o status de verdade, já que, no interior do grupo, essa mentira parece ter "todo o sentido".