Eis uma contradição: no discurso religioso cristão, prega-se a fraternidade; porém, a partir do momento em que um jogador de futebol (supostamente, amarrado ao discurso corrente) diz que venceu “graças a Deus”, está, ao mesmo tempo, afirmando que a derrota do adversário também aconteceu “graças a Deus”; afinal, se houve um vencedor é por que houve, na mesma situação, um perdedor. Diante disso, pode-se concluir que, se Deus contribuiu na vitória, é porque, do outro lado, deixou de contribuir ou agiu negativamente.
(Uma maneira recorrente de fugir dessa contradição, é a estratégia de lançar mão de uma ideia (feita) vinda do mais chato dos sensos comuns, a auto-ajuda: “o que vale é competir, todos somos vitoriosos!”. Ainda assim, tal estratégia não tem sentido e coerência no contexto em que o jogador de futebol faz uso da expressão “graças a Deus”, afinal, sabe-se que essa expressão é usada, precisamente, ao final de uma partida em que o clube, que esse jogador representa, sai vitorioso e deixa como rastro alguns indivíduos com o rótulo de “derrotados”!)
A contradição fica ainda mais complicada se se levar em consideração que, segundo o mesmo discurso religioso, Deus é essencialmente Bom; ou seja, independentemente da situação, Deus é sempre Bom. Como pode Deus fazer o Bem para um clube de futebol se esse Bem implica, no mesmo gole, o Mal para outras pessoas?
Ainda que se diga que esses argumentos não estão considerando que uma derrota não, necessariamente, é Má, ou que se está entendendo o “Bem” e o “Mal” num sentido moral, isso somente acontece em função da ideia feita em questão (“vencemos graças a Deus!”) ser proferida apenas em situações que, tradicionalmente, são reconhecidas como Boas (em situações que a derrota é sim considerada algo indesejável); ou seja, essa ideia feita é encontrada no registro do moralismo e, justamente por isso, é tomada nesse registro.
Vejam bem, o problema levantado nesta seção não está, como pode parecer aos moralistas, no fato da comemoração de alguns implicar no desgosto de outros. O problema está no fato de haver contradição no âmago da ideia feita. Pois não é este texto que afirma que Deus é sempre Bom, mas é o jogador que, ao mesmo tempo em que se alia ao discurso do “essencialmente Bom” e da “fraternidade”, agradece "aos céus" por estar acontecendo algo a outros indivíduos; um algo que ele mesmo reconhece como sendo da ordem das coisas que “não desejamos para ninguém”: a dor, o sofrimento, o desgosto etc.
(Uma maneira recorrente de fugir dessa contradição, é a estratégia de lançar mão de uma ideia (feita) vinda do mais chato dos sensos comuns, a auto-ajuda: “o que vale é competir, todos somos vitoriosos!”. Ainda assim, tal estratégia não tem sentido e coerência no contexto em que o jogador de futebol faz uso da expressão “graças a Deus”, afinal, sabe-se que essa expressão é usada, precisamente, ao final de uma partida em que o clube, que esse jogador representa, sai vitorioso e deixa como rastro alguns indivíduos com o rótulo de “derrotados”!)
A contradição fica ainda mais complicada se se levar em consideração que, segundo o mesmo discurso religioso, Deus é essencialmente Bom; ou seja, independentemente da situação, Deus é sempre Bom. Como pode Deus fazer o Bem para um clube de futebol se esse Bem implica, no mesmo gole, o Mal para outras pessoas?
Ainda que se diga que esses argumentos não estão considerando que uma derrota não, necessariamente, é Má, ou que se está entendendo o “Bem” e o “Mal” num sentido moral, isso somente acontece em função da ideia feita em questão (“vencemos graças a Deus!”) ser proferida apenas em situações que, tradicionalmente, são reconhecidas como Boas (em situações que a derrota é sim considerada algo indesejável); ou seja, essa ideia feita é encontrada no registro do moralismo e, justamente por isso, é tomada nesse registro.
Vejam bem, o problema levantado nesta seção não está, como pode parecer aos moralistas, no fato da comemoração de alguns implicar no desgosto de outros. O problema está no fato de haver contradição no âmago da ideia feita. Pois não é este texto que afirma que Deus é sempre Bom, mas é o jogador que, ao mesmo tempo em que se alia ao discurso do “essencialmente Bom” e da “fraternidade”, agradece "aos céus" por estar acontecendo algo a outros indivíduos; um algo que ele mesmo reconhece como sendo da ordem das coisas que “não desejamos para ninguém”: a dor, o sofrimento, o desgosto etc.
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