Argumento 01: ouvi falar de um ritual de certa tribo indígena no qual os homens colocam máscaras e correm atrás das mulheres como se fossem monstros. E que, segundo ouvi argumentar, as mulheres dessa tribo, apesar de, conscientemente, saberem que se trata não de monstros, mas dos seus próprios homens, ainda assim fogem horrorizadas de medo. Isso porque elas não fingem medo; elas sentem medo “de verdade”.
Também poderia usar o exemplo do “homem bomba” e até do católico que, apesar de reconhecer todo o conhecimento científico, ainda assim busca não anunciar o seu ateísmo para não colocar em risco a sua “entrada no céu”.
Não tenho dúvida de que, racionalmente, todo torcedor do Grêmio sabe que o seu clube não tem nenhum grande feito que não possa ser equiparado aos (ou mesmo superado pelos) feitos de outros grandes clubes. Porém, esse aspecto racional pouco importa, pois o que “fala mais alto” é o efeito de acreditar na própria mentira (por isso as mulheres daquela tribo correm, mesmo que, conscientemente, saibam que se trata de seus próprios homens) e não o grau de veracidade do acontecimento. Excetuando o efeito, todos os torcedores dos grandes clubes (e não apenas do Grêmio) sabem que todos os grandes clubes são imortais: afinal, alguém já viu um clube “fechar as portas”, “dar um tempo” ou “jogar a toalha” apenas por ter sido rebaixado ou por ter vivido um mau momento?
Argumento 02: nossa sociedade, sobretudo ocidental, acredita fielmente na ideia de autoria. Para mantê-la viva, respeita-a. A questão toda é que foi o Grêmio quem trouxe essa ideia para o futebol. Quero dizer que se o Grêmio é “o imortal” não é porque de fato o seja (em especial), mas é porque foi ele quem inventou o slogan.
Argumento 03 (abalizado na ideia feita da seção anterior): o que é um feito maior? O Corinthians ou o Vasco vencer a Séria B do Campeonato Brasileiro se impondo com naturalidade sobre os seus adversários, ou o Grêmio vencer o mesmo campeonato duelando “de igual para igual” com clubes de menor expressão? Racionalmente, não há a menor dúvida de que o primeiro caso é um feito maior e, claramente, preferível; porém, como “ganhar com raça” é sempre interessante por lançar o motivo da vitória para a transcendência, publicamente parece que é o segundo que vala mais a pena (conforme dito na seção anterior, a raça é anunciada apenas em “vitórias apertadas”). Há, nisso, uma clara confusão entre a ideia de “grande feito” e a de “ganhar com a calça na mão”.
Argumento 04: diante de seguidos fracassos, a difusão da ideia de imortalidade é uma interessante estratégia de positivação dos maus momentos. Em termos comunicacionais é genial. O que fazer diante de derrota tão dolorosa? Ora, supervalorizar a “volta por cima” (ora, como se não fosse corriqueiro o fato de todos os grandes clubes, diante de seus maus momentos, “darem a volta por cima”!).
Também poderia usar o exemplo do “homem bomba” e até do católico que, apesar de reconhecer todo o conhecimento científico, ainda assim busca não anunciar o seu ateísmo para não colocar em risco a sua “entrada no céu”.
Não tenho dúvida de que, racionalmente, todo torcedor do Grêmio sabe que o seu clube não tem nenhum grande feito que não possa ser equiparado aos (ou mesmo superado pelos) feitos de outros grandes clubes. Porém, esse aspecto racional pouco importa, pois o que “fala mais alto” é o efeito de acreditar na própria mentira (por isso as mulheres daquela tribo correm, mesmo que, conscientemente, saibam que se trata de seus próprios homens) e não o grau de veracidade do acontecimento. Excetuando o efeito, todos os torcedores dos grandes clubes (e não apenas do Grêmio) sabem que todos os grandes clubes são imortais: afinal, alguém já viu um clube “fechar as portas”, “dar um tempo” ou “jogar a toalha” apenas por ter sido rebaixado ou por ter vivido um mau momento?
Argumento 02: nossa sociedade, sobretudo ocidental, acredita fielmente na ideia de autoria. Para mantê-la viva, respeita-a. A questão toda é que foi o Grêmio quem trouxe essa ideia para o futebol. Quero dizer que se o Grêmio é “o imortal” não é porque de fato o seja (em especial), mas é porque foi ele quem inventou o slogan.
Argumento 03 (abalizado na ideia feita da seção anterior): o que é um feito maior? O Corinthians ou o Vasco vencer a Séria B do Campeonato Brasileiro se impondo com naturalidade sobre os seus adversários, ou o Grêmio vencer o mesmo campeonato duelando “de igual para igual” com clubes de menor expressão? Racionalmente, não há a menor dúvida de que o primeiro caso é um feito maior e, claramente, preferível; porém, como “ganhar com raça” é sempre interessante por lançar o motivo da vitória para a transcendência, publicamente parece que é o segundo que vala mais a pena (conforme dito na seção anterior, a raça é anunciada apenas em “vitórias apertadas”). Há, nisso, uma clara confusão entre a ideia de “grande feito” e a de “ganhar com a calça na mão”.
Argumento 04: diante de seguidos fracassos, a difusão da ideia de imortalidade é uma interessante estratégia de positivação dos maus momentos. Em termos comunicacionais é genial. O que fazer diante de derrota tão dolorosa? Ora, supervalorizar a “volta por cima” (ora, como se não fosse corriqueiro o fato de todos os grandes clubes, diante de seus maus momentos, “darem a volta por cima”!).
Dizer que o Grêmio é imortal equivale a dizer que o Grêmio não é igual à Portuguesa, é superior. Apenas isso. Dar valor ao fato de cair pra Série B e voltar pra Série A é o mesmo que dar valor ao fato de nunca ter caído pra Série B. Por isso, o Grêmio não é igual à Portuguesa assim como o Inter não é igual ao Grêmio.
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